Cobrança na Umbanda
Num
atendimento de caridade espiritual, havendo ou não a consulta com as Entidades
Espirituais, acredita-se não ser correto cobrar por isso, seja o pagamento de
qualquer quantia em dinheiro, seja de outra forma, embora não se avalie negativamente
quando as Entidades Espirituais, em vista da insistência dos consulentes em
retribuir-lhes, aconselham a doação de alimentos, roupas ou agasalhos a quem de
fato necessite.
Assim
não se pode afirmar que seja radicalmente contra a cobrança de qualquer tipo,
mas sim, de valor pecuniário, relativo ao atendimento espiritual, principalmente
porque o atendimento é realizado por outro Ser, que pode ser uma Criança, um
Caboclo, um Preto Velho, um Exu, ou outro Guia Espiritual, que tem o propósito
de ajudar a cumprir a missão cármica, no rumo da evolução espiritual, que depende
do desenvolvimento de diversas características, dentre elas, a prática da caridade.
Além
disso, Caboclo das Sete Encruzilhadas.ao anunciar o novo culto que se
estabelecia então, decretou que a prática da caridade, no sentido do amor
fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o
Evangelho de Jesus Cristo e o que o atendimento aos que a procurassem, seria sempre gratuito. Anunciou também,
o nome do movimento religioso que se iniciava: UMBANDA – a manifestação do
Espírito para a caridade.
Assim,
têm-se dois indicadores da gratuidade dos atendimentos na Umbanda,
primeiramente pela afirmação direta do Caboclo das Sete Encruzilhadas e também,
pela sua alusão ao evangelho de Jesus Cristo, que nos ensina “[...] dai de
graça o que de graça recebeste [...]”.
Uma
das maiores batalhas que se tem pela frente é vencer a intolerância e o
preconceito contra a Umbanda, e um dos fatos que mais depõe contra ela é a sua
utilização por falsários que se fazendo passar por pais e mães de santo, criam
verdadeiras arapucas para através da fé, se utilizarem da dor e do desespero
alheio para auferir vultosas somas pecuniárias.
Entretanto,
não só os falsários se aproveitam da fé, existem também, pais e mães de santo,
que ao conseguir ter o domínio sobre as pessoas menos esclarecidas, pelo medo, delas
se aproveitam financeira ou economicamente, para obter um rendimento extra dos médiuns
e assistidos que frequentam os seus terreiros. Dessa forma transformam os
terreiros em balcão de negócios, estabelecendo uma relação comercial com os
assistidos, correndo o risco de até ser denunciados nos serviços de proteção ao
consumidor, pois via de regra, não existe solução fácil para problemas
difíceis.
As
compensações, de qualquer espécie, devem ser fruto do merecimento individual de
cada um, só fazem bem, quando recebidas através de graça divina, a segurança e
a sustentabilidade material devem ser conquistadas com o trabalho, embora não
exista recompensa maior do que ajudar os nossos irmãos menos favorecidos, não
há recompensa financeira que pague a proteção, o amor, a força e as bênçãos que
os Guias Espirituais nos dão e, frise-se, que para isso não cobram nada,
somente disciplina, amor fraterno e a reprodução dos seus ensinamentos.
Por
fim é importante entender que a religião (qualquer que seja) deve servir para
solução dos males espirituais, não pode e não deve ser confundida com um
comércio de Fé, prometendo resultados que dependem exclusivamente das opções feitas
através do livre-arbítrio, do carma e do merecimento individual. Quem cuida,
cura, resolve, ajuda, recompensa, faz ou desfaz é Deus, o médium encarnado e o
Guia de Luz desencarnado que dele se utiliza como aparelho são medianeiros
divinos na execução do Carma.
Lei de Salva
Para
que se possa entender a cobrança na Umbanda, é importante citar que existe a “Lei
de Salva”, utilizada por muitos pais e mães de santo como a justificativa para cobrança
pecuniária quando da realização de trabalhos espirituais que envolvem a
manipulação magística, principalmente voltada às questões que exigem o combate
a forças negativas, exigindo do indivíduo que realiza o trabalho, dedicação quase
exclusiva além de enorme esforço físico e intelectual e a aplicação de grande
parte do seu conhecimento.
Como
se vê, a lei de salva depende da honestidade de propósitos de quem dela se
utiliza, tem um cunho moral e ético, notadamente com o seu uso adequado. O uso
indiscriminado, na aplicação em qualquer trabalho de cunho espiritual. e
abusivo, no tocante aos valores envolvidos, que se sabe existir em muitos
lugares, caracteriza o uso da religião para o enriquecimento ilícito, que se
vale da necessidade alheia, do desespero de causa e da ignorância e ingenuidade
para explorar e garantir o seu sustento e sobrevivência através da Umbanda que
diz praticar.
Para
entendê-la melhor reproduz-se abaixo o texto do Mestre Yapacani (W. W. da Matta
e Silva), retiradas do livro “Umbanda e o Poder da Mediunidade” (1987 – 3a. edição – Livraria Freitas Bastos
p. 77-80), para que cada um possa conhece-la e a partir daí utilizar o seu
livre-arbítrio, tirar as suas conclusões.
“Mas o que é, em verdade, a lei de salva? Tentaremos
explicar isso direitinho, pondo os pontos nos Is, que é para tirarmos a máscara
de muitos falsos “chefes-de-terreiros” ou “babás”, ou que outro qualificativo
lhes queiram dar, que fazem disso a “galinha dos ovos de ouro” … Essa lei de
salva é tão antiga quanto o uso da magia. Existe desde que a humanidade nasceu.
Os magos do passado jamais se descuidavam de sua regra, ou seja, da lei de
compensação que rege toda ou qualquer operação mágica, quer seja para
empreendimentos de ordem material, quer implique em benefícios humanos de
qualquer natureza, especialmente nos casos que são classificados na Umbanda
como de demandas, descargas, desmanchos etc.
Dessa lei de salva, ou regra de compensação sobre os
trabalhos mágicos, nos dão notícia certos ensinamentos esotéricos com a
denominação de lei de Amsra… Nenhum magista pode executar uma operação mágica
tão somente com o pensamento e “mãos vazias” – isto é, sem os elementos
materiais indispensáveis e adequados aos fins… Essa história de pura magia
mental é conversa para entreter mentalidades infantis ou não experimentadas
nesse mister. Qualquer ato ou ação de magia propriamente dita requer os
materiais adequados, sejam eles grosseiros ou não. Vão dos vegetais às flores,
aos perfumes, aos incensos, as plantas aromáticas, às águas dessa ou daquela
procedência até ao sangue do galo ou bode preto. A questão é definir o lado: –
ou é esquerda, ou é direita, negra ou branca. Ora, como toda ação mágica traz
sua reação, um desgaste, uma obrigação ou uma responsabilidade e uma
consequência imprevisível (em face do jogo das forças movimentadas) é
imprescindível que o médium-magista esteja coberto ou que lhe seja fornecida a
necessária cobertura material ou financeira a fim de poder enfrentar a qualquer
instante essas possíveis condições…Então é forçoso que tenha uma compensação.
Aí é que entra a chamada lei de salva, ou simplesmente
SALVA… Mesmo porque, todo aquele que, dentro da manipulação das forças mágicas
ou da magia, dá, dá e dá sem receber nada, tende fatalmente a sofrer um
desgaste, pela natural reação de uma lei oculta que podemos chamar de
vampirização fluídica astral, que acaba por lhe enfraquecer as forças ou as
energias psíquicas… E naturalmente o leitor, se é médium iniciado na Umbanda,
nessa altura deve estar interessadíssimo em saber como será essa compensação.
Claro, vamos dizer como é a regra, para que você possa extrair dela o que seu
senso de honestidade ditar: [...] de quem tem, peça três, tire dois e dê um a
quem não tem; e de quem não tem, nada peça e dê até o seu próprio vintém [...].
É claro que essa lei de salva ou de compensação, própria e de uso exclusivo
em determinados trabalhos de magia, não pode ser aplicada em todos os
“trabalhinhos” corriqueiros que se pretenda ser de ordem mágica.”
A
lei de salva é uma regra inviolável, ela também tem a sua contraparte de
retorno para aqueles que dela abusam. Como diz Mestre Yapacani: “É
triste vermos como a queda desses verdadeiros médiuns magistas é vergonhosa,
desastrosa até… Começa acontecer cada uma a esses infelizes! Desavenças no lar,
separações, amigações, neuroses, bebida, jogo e uma série de “pancadarias” sem
fim, inclusive o desastre econômico (…) e no final de tudo, verdadeiros
trapos-humanos (…).”
Por Mãe Mônica Caraccio, postado em 10 de junho de 2010,
disponível no site http://www.minhaumbanda.com.br/blog/?p=1807,
consultado em 25/04/2014.
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