Nesse dia 15 de Novembro de 2013 chegamos ao 105°
Aniversário da Umbanda, com muito para comemorar mas também com um número
crescente de preocupações. A principal delas, diz respeito a sustentabilidade
da Umbanda e se resume na pergunta:
Qual é a Umbanda que vamos deixar para os nosso
filhos?
Para responder á essa pergunta, é necessário voltar um pouco na linha do
tempo, analisando a sua gênese, desde os primeiros cultos afro-brasileiros, que
representavam a resistência social, cultural e religiosa dos negros africanos
que para aqui vieram escravizados, e posteriormente dos seus descendentes, mas,
que aos poucos foram cedendo espaço á sociedade branca e católica, mais
poderosa, que acabou resultando em religiões sem cunhos étnicos, raciais,
geográficos ou de classes sociais, que tinham que competir no mercado
religioso, por seguidores, reconhecimento e legitimidade.
Dessa
forma, ao romper do século XX, nasceu uma nova religião no Rio de Janeiro, a
Umbanda, inspirada nas antigas Macumbas cariocas, na Cabula e no Omolokô, por obra dos escravos recém libertados que iam para o Rio
de Janeiro, então capital federal, em busca de trabalho no cais do porto; tendo
sido também influenciada pelo Espiritismo kardecista, que aportava no
Brasil, nas cabeças dos filhos de famílias abastadas após o término de seus
estudos na França.
Assim, a
Umbanda disseminou-se por todo o país, se constituindo na grande religião
brasileira, que reproduz de forma concreta, a formação da nossa sociedade
mestiça, misturando no caldeirão efervescente da Fé, o catolicismo dos brancos,
os Orixás dos negros e a espiritualidade e rituais dos indígenas.
Mas,
desde a assunção da Umbanda, no plano terreno, ocorrida em 1908, por obra do Pai
Zélio Fernandino de Moraes e do Caboclo das Sete Encruzilhadas muita coisa
mudou em nosso país, mudanças que foram sentidas também nas religiões, com
novas formas de buscar o religare, convivendo com antigas; algumas
se mantendo intocáveis, outras se modernizando, acompanhando usos e costumes;
ou mesmo assumindo novas roupagens que lhe são impostas por novas lideranças.
A Umbanda
tem como característica, reunir de pequenos grupos de médiuns, em torno de um
dirigente, mãe ou pai de santo, que embora tenha sido formado por outro (a) mãe
ou pai de santo, ao imprimir a sua história pessoal, conhecimento e
personalidade, forma um terreiro diferente daquele que lhe deu origem, autônomo
e independente, com pouca, - geralmente em festas -, ou nenhuma integração com
outros grupos. Dessa realidade pode-se concluir que não existe uma organização
institucional capaz de unificar os terreiros, uma vez que mesmo litúrgica e
ritualisticamente, grosso modo, não existem dois terreiros de Umbanda iguais,
tornando-se muito difícil o estabelecimento de projetos e estratégias comuns,
tanto no aspecto religioso, quanto na relação com a sociedade.
As
federações de Umbanda, via de regra agrupam também Ilês do Candomblé, e Templos
de outras religiões, dividindo a força representativa, e muitas delas existem
única e exclusivamente para o benefício particular dos seus dirigentes, nada
realizando em prol da Umbanda. Aquelas que pretendem realizar alguma coisa
sofrem, primeiro com o descaso e reação ao termo federação; com a falta de
disponibilidade de pessoas, que são totalmente consumidas pelas suas atividades
laborais e/ou pela administração dos terreiros; e, principalmente, pela falta de recursos financeiros.
Assim,
fragmentados em pequenos grupos, vivencia-se certa concorrência entre os
terreiros, não se atua na via institucional e inexiste uma estratégia política
de centralização de ações de frente ampla. Com raríssimas exceções, em plena
era da comunicação, ainda vive-se a tradição da transmissão oral dos
conhecimentos, o que nos torna alvo fácil para o ataque de outras religiões
mais modernizadas, bem estruturadas financeiramente, que organizadas
nacionalmente, estabelecem relações muitas vezes equivocadas com o poder central
do estado, cuja laicidade é letra morta na Constituição Federal, se
fortalecendo cada vez mais.
Dessa forma, emerge a necessidade de uma efetiva proposição de
articulação nacional com o objetivo de buscar o reconhecimento e legitimação da
Umbanda como religião.
É necessário também e urgente dar um norte para o futuro da Umbanda,
evitando utilização do seu nome em atividades que buscam somente aproveitar-se da
Fé das pessoas, extorquindo valores para a realização de trabalhos que ferem os
princípios morais, éticos, cármicos e o livre-arbítrio.
É preciso dar uma basta aos mistificadores, que através de
anúncios em postes, ou com verdadeiras arapucas, se utilizam do nome da Umbanda
para ganhar dinheiro dos mais incautos, transformando a religião num negócio,
totalmente descolado da prática do bem e da
caridade pura, real e desinteressada, como preconizou o Caboclo das Sete
encruzilhadas.
Portanto, respondendo á provocação inicial do texto, deve-se ter a
preocupação com a Umbanda que será deixada para as gerações futuras de
umbandistas, se essa que é alvo de discriminação e preconceito, ou uma religião
que as pessoas possam assumir sem o medo de represálias e perseguição.
Tendo
como certo que a melhor maneira de combater a discriminação e o preconceito é a
conscientização e o esclarecimento, é cada vez mais necessária a integração dos
Umbandistas entre si e com a sociedade, numa articulação que inicie localmente,
avance para a regional e se estabeleça nacionalmente, de forma a unificar a
mobilização dos Umbandistas, pelo reconhecimento efetivo e legitimação da sua
religião.
É
importante perceber que não se quer dividir, acredita-se na diversidade de
ritos como a grande riqueza da Umbanda, mas, entende-se necessário articular os
Umbandistas para a definição da sua identidade religiosa, esclarecendo, tanto
interna, para os Umbandistas, quanto externamente para o conjunto da sociedade,
o que é a religião de Umbanda.
Parabéns Umbanda!
Que nos
valha o Caboclo das Sete Encruzilhadas!
Embora eu discorde de alguns pontos expostos no caput , concordo que é preciso levar a conhecimento que a Umbanda não compactua e nem forma pessoas como as que foram presas e muito menos promove a extorsão.Todo templo precisa de numerários para se manter, alguns PDS que estão a disposição 24 horas cobram pelo atendimento, assim como benzedores e afins, mas sem o objetivo de enriquecimento e muito menos de causar dano financeiro ou moral.Ainda tenho o parecer que há algo estranho dentro desta história de Curitiba, pois pagar 380 mil sem que o marido tenha conhecimento, e ainda mais de uma forma linear tão bem amarrada a sequência da história, me cheira até armação com objetivo de denegrir as religiões de matriz afro-brasileiras.
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