Durante
as homenagens prestadas ao Pai Fernando de Ogum pelos seus filhos da corrente
de ferro e de aço do Terreiro Pai Maneco, resolvi que precisava escrever alguma
coisa, queria transformar em palavras a emoção daquele momento, caracterizar e
mostrar a todos quem era o Pai Fernando. Mas, sentado á frente do notebook, nada parece
funcionar, busco ajuda, pesquiso na Internet, nada se ajusta ao que tenho para
dizer, nada me satisfaz. Busco os e-mails que trocávamos; o Pai Fernando era uma
espécie de conselheiro especial para as coisas da FUEP, associado desde a
assembléia de refundação, antes de tomar qualquer atitude, ou mesmo já tendo
tomado, consultava-o.
A comunicação entre dois filhos de Ogum sempre
é direta, não tem floreios, seca mas respeitosa, nos intitulávamos eternos
aprendizes, obviamente, eu bem mais que ele. Não consegui convencê-lo a
participar dos Festivais de Curimba, por que ele não gostava da competição, tinha
o receio de que isso causaria mais malefícios do que benefícios, não adiantava
argumentar. E a Curimba do Terreiro era a "joia da coroa" do Pai
Fernando, não cansava de elogiar a qualidade da sua Curimba, dos pontos
cantados, dos muitos pontos criados no Pai Maneco.
Com
ele aprendi a assinar os e-mails, finalizando com o termo Axé, que vertido para
o português significa " o poder da realização". Tá aí, se em apenas
uma palavra pudéssemos resumir a sua personalidade, essa seria a palavra: realização;
afirmo, sem medo de errar, que poucas pessoas fizeram tanto pela Umbanda como o
Pai Fernando. Tal como Zélio de Morais, ele contribuiu para popularizar a nossa
religião em setores da sociedade onde dificilmente entraríamos, a classe média,
formadores de opinião que nos ajudam a desmistificar a Umbanda no dia a dia.
O
que falar do Terreiro Pai Maneco, um dos maiores Terreiros do Brasil com mais
de 1.600 médiuns, com Giras todos os dias da semana, exceto domingo, inclusive
com três Giras na quarta-feira, duas simultãneas. Isso é realização. O que
falar das dezenas e dezenas de pais e mães de santo feitos pelas suas mãos, que
fundaram dezenas e dezenas de Terreiros, que por sua vez fizeram outras dezenas
de pais e mães de santo, que fundaram outros tantos Terreiros, com a mesma
filosofia do Pai Maneco, da "Umbanda pés no chão".
Mas,
ainda não era isso, era óbvio demais, então fui buscar o meu exemplar do seu
livro "Grifos do Passado" escrito em 2004, nas suas páginas, pensei, que
poderia enfim caracterizá-lo, mas vejam o que encontrei nas páginas 18 e 19:
"Ás vezes me pergunto: quem sou eu? Sou ainda
aquele menino medroso, talvez o entusiasmado kardecista contra rituais, ou o
velho pai de santo, cheio de fé e experiência? Serei uma mistura de tudo isso?
Joguei fora minha inocência, meus medos, minha arrogância, humildade, meu ódio
ou meu amor? Gosto de modificar por ser inovador ou gosto de ser polêmico para
ser incomum? Sou bom ou sou ruim? Ninguém além de mim poderá saber. Sou um
velho cheio de juventude, uma pessoa alegre, cheia de tristezas; uma mistura do
bom e do ruim. Filtro o que ouço, para não me confundir e olho tudo para
aprender. Não julgo ninguém e não ligo se me julgarem. Crítica ou o elogio não
me afetam. Gosto de amar, mas não me magoo se não me amarem. Eu sou um homem
humilde e um vaidoso pai de santo, em busca da liberdade... única coisa que
ainda não conheço.
Agora
fiquei satisfeito, ninguém melhor que o próprio Pai Fernando para mostrar quem
de fato era, e por último como fecho desse texto, acredito que ele encerrou a
sua busca e acabou de conhecer a liberdade...
Saravá
Pai Fernando, Axé.
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